AS LEIS DE INCENTIVO: REDESCOBRINDO O CIRCO-TEATRO
No início do ano de 2010, os Peixes recebem uma notícia que mudaria a vida do grupo: o Projeto "Redescobrindo o Circo-Teatro" tinha sido aprovado no Programa de Valorização de Iniciativas Culturais (VAI) da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Falando de forma resumida, o VAI é uma Lei de Incentivo que "patrocina" as ações culturais de jovens fazedores de arte. Essas ações devem ter um forte apelo social e devem, prioritariamente, ser realizadas em regiões desprovidas de equipamentos culturais ou em parceria com equipamentos públicos. Em suma, o projeto deve ser executável e possuir relevância sócio-cultural.
Peixes e alunos da oficina 2010 |
O projeto "Redescobrindo o Circo-Teatro" possui quatro frentes de trabalho: a pesquisa sobre teatralidade circense; a circulação de espetáculos em repertório; a realização de uma oficina sobre circo-teatro; e a organização de um encontro de teatro amador. Não sabemos exatamente o que chamou atenção em nosso projeto, mas o importante é que ele foi aprovado. Não uma, mas três vezes! Duas no VAI e uma no Prêmio "Ensaiando Um País Melhor". Vamos falar com calma dos melhores momentos desse projeto!
OFICINA REDESCOBRINDO O CIRCO-TEATRO
Desde o início, os Peixes tinham o desejo de abrir uma oficina só para falar de Circo-Teatro. E com razão! Primeiro, porque o grupo é fruto de uma série de oficinas teatrais que durou mais de 5 anos. Segundo, porque oficina de teatro é o que não falta no mundo. Tem uma em cada esquina, praticamente. Agora, quantas oficinas de circo-teatro existem por aí? Pergunta difícil de ser respondida. Em nossas pesquisas, encontramos, no máximo, alguns workshops e oficinas de curta duração (a maior que encontramos tinha apenas 3 meses de duração) que tratavam do assunto. Na maioria dos casos, notamos uma confusão na nomenclatura pois de "circo-teatro" via-se muito pouco. Encontramos oficinas de circo (acrobacias, malabares etc), palhaço, clown, dentre outras. Todas traziam o nome "circo-teatro", mas nenhuma trabalhava realmente o assunto. Nada espantoso, já que estamos falando de um conjunto de saberes dominado por poucas pessoas e cuja transmissão ainda se dá de forma oral. Com isso, arriscamos dizer que a nossa é a única oficina de Circo-Teatro de longa duração (9 meses) do Brasil! Claro que podemos estar errados. Pode ser que exista alguma oficina parecida escondida em algum lugar por aí. Mas procuramos e não encontramos...
Exercício de voz na oficina 2010 |
A primeira edição da oficina foi bem modesta. Sediada no Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA), da UNE, a oficina pretendia ser dividida em módulos e, portanto, não havia a necessidade de fazer uma turma fechada. A ideia, na verdade, é que as aulas tivessem começo, meio e fim. Ou seja, uma pessoa poderia entrar no meio do ano que não influenciaria em nada. Com isso, optamos por não estipular um número de vagas. Mesmo assim, a procura foi relativamente baixa: 25 inscritos, dos quais apenas 14 pessoas apareceram no primeiro dia de aula. Apesar da pouca procura, foi uma grande experiência. Percebemos que a oficina precisaria, sim, ser um trabalho contínuo, com uma aula sendo ligada à outra e, portanto, ter uma turma fechada. Como tivemos poucos alunos, pudemos nos dedicar exclusivamente a eles, trabalhando muito bem a técnica de interpretação circense. No final do ano, o grupo (agora reduzido a apenas 3 pessoas) montou o espetáculo "Eles são Seis Cômicos" (do qual falaremos mais detalhadamente no futuro), com a participação especial de três Peixes: Carmem Garcia, Plínio Garcia e Rafael Garcia.
Aula de história do Circo-Teatro na oficina 2011 |
Aula de interpretação circense na oficina 2011 |
No ano seguinte, a oficina recebeu muitas melhorias. Em primeiro lugar, mudamos para um espaço com mais infra-estrutura: o Centro Cultural do Jabaquara. Estabelecemos, também, um número limitado de vagas (40) e fizemos um plano de aula, no mínimo, inovador. A oficina de 2011, logo de cara, já prometia ser bem superior à experiência de 2010: foram 120 pessoas inscritas lutando por uma de nossas vagas. Para não favorecer ninguém, optamos por um sistema de sorteio (que consideramos justo, já que não favorece nem o mais rápido, nem o mais experiente, indo contra as correntes "ordem de chegada" ou "carta de intenção"). Sobre as aulas, o grande diferencial foi a divisão em "matérias": os artistas-aprendizes teriam, então, aulas de história do Circo-Teatro, interpretação circense, expressão corporal e técnicas de acrobacia, expressão vocal e música para teatro, maquiagem, figurino, cenografia e iluminação. Tudo de graça!
Aula de maquiagem na oficina 2011 |
Foi um grande avanço para os Peixes, que se viram forçados a pesquisar cada vez mais para poder comunicar as técnicas da teatralidade circense com exatidão. O tempo todo, prezamos por algo que, em outras oficinas, acaba sendo substituído pelos números: a qualidade! O resultado foi a montagem de dois grandes espetáculos de conclusão de curso: "Lá em Cima do Piano..." e "Se o Anacleto soubesse...".
Espetáculo "Que mãe eu arranjei" - Oficina 2012 |
Espetáculo "Copabacana" - Oficina 2012 |
A terceira edição veio como confirmação de uma experiência bem sucedida. Após o grande acerto de 2011, poucas foram as alterações feitas na última edição de nossa oficina. No geral, foi repetir os acertos e concertar os erros. Ao todo, foram 125 inscritos. No final do ano, foi preciso montar três espetáculos de conclusão de curso: "Copabacana", "Que mãe eu arranjei" e "A Almanjarra". Concluída essa etapa, a Cia. Teatral Um Peixe achou que seria o momento ideal para voltarmos à pesquisa de linguagem e, portanto, uma boa hora para encerrar as oficinas. Mas o projeto continua vivo e a oficina "Redescobrindo o Circo-Teatro" voltará no futuro. Por enquanto, estamos fazendo aquilo que os Peixes fazem de melhor: estudar, estudar e estudar! Tudo para que, dentro de alguns anos, possamos reabrir as oficinas com muito mais material, maior compreensão e, consequentemente, mais qualidade!
Espetáculo "A Almanjarra" - Oficina 2012 |
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